TRABALHO 1
“Carta do Pleistoceno
Senhores cientistas,
quem daqui lhes escreve – daqui não sendo o além exatamente mas uma espécie de ponto de vista – é o mamute. O mamute, aquele que vocês trouxeram recentemente à luz lá pelos lados da Rússia – à luz ofuscante dos flashes e dos holofotes de TV, é bom que se diga, porque uma certa luz fraca e opalinada me alcançou sempre através do gelo. E escrevo porque chegou-me a notícia – como chegam depressa as notícias nesse tempo vosso! – de que estão tencionando me clonar. Estão planejando tirar um pedaço de mim, daquilo que vocês chamam DNA, manipulá- lo de alguma maneira que para o meu cérebro antigo parece assaz complicada, mas que deveria se concluir com a minha presença implantada num óvulo de elefanta, decorrente gravidez e posterior nascimento. Peço-lhes encarecidamente que não façam isso. Poderia invocar os direitos de autor, pois, embora mínimo, qualquer pedaço de mim me pertence, mas receio não estar coberto por vossas leis autorais. Apelo então para aqueles sentimentos caridosos que
dizeis habitar vosso coração. E para o bom senso, que infelizmente nem sempre tem esse mesmo endereço. Estou, como os meus semelhantes, extinto desde o Pleistoceno. Boas razões tivemos para sumir, embora ainda não pudéssemos prever o que vocês aprontariam no planeta. Não sumimos sozinhos. Outras coisas se foram desde então, outros animais. Aparentemente não fizeram falta. Nosso erro, talvez, foi ter deixado o retrato nas paredes das cavernas, alimentando saudades. E agora nos querem de volta. Mas, nascido outra vez, o que faria eu? Único da minha espécie, que função me dariam vocês depois de me fazerem atravessar à força 200 mil anos? Uma jaula de zoológico ou um viveiro de laboratório? Serviria para o turismo ou como cobaia? Seria uma peça de museu viva ou criatura que escapou de algum desses filmes de que vocês tanto gostam? E quem embolsaria o cachê pelo uso da minha imagem? No meu mundo, os homens que me caçavam com suas armas de pontas de pedra me temiam, quase como a um deus, e à noite, ao redor do fogo, falavam de mim com reverência. No mundo de vocês eu seria apenas um monstro que não inspira respeito a ninguém. Um monstro solitário, sem sequer a possibilidade de apaixonar-me por uma loura e carregá-la para o alto do Empire State Building. Um monstro condenado à vida. E como explicar, à elefanta de quem eu nasceria, nosso estranho parentesco? O desmonte daquilo que fui já começou antes mesmo do seqüestro do meu DNA. Plantado no gelo durante séculos como uma árvore submersa, permaneci, até vossa chegada, com a dignidade de um ser grandioso. Eu era uma estátua da minha era. Intacto. Soberbo. Logo acabaram com isso. Sequer tiveram a elegância de serrar inteiro o bloco que me continha. Serraram apenas o que lhes interessava, a porção que me manteria congelado. Os dentes deixaram de fora. E assim retangular, como uma embalagem de leite ou uma caixa de polpa de tomate em que alguém tivesse cravado dois garfos, fui içado por um guindaste diante dos olhos do mundo. Eu já não era uma estátua, era um container. Sei que para vocês eu nem mereço qualquer explicação, mas digam-me, qual é exatamente sua intenção? Esquecendo o brilhareco científico, suspeito que queiram trazer o passado de volta, com a desculpa de estudá-lo diretamente. Mas se fomos extintos é porque já não nos encaixávamos nas condições ao redor – a evolução ejeta seus antigos parceiros. Para realmente trazer-nos de volta seria preciso clonar muito mais do que o meu DNA, seria preciso duplicar tudo aquilo que nos mantinha vivos. E uma vez recriado aquele universo, como vocês se encaixariam nele? Permitam-me uma última pergunta: encontrando restos de Homo sapiens dos quais fosse possível retirar o DNA, tentariam vocês igualmente implantá-lo no ventre de uma mulher do século vinte e um?” (COLASANTI, p. 17 a 19).
IDEIAS:
- Identificar os pontos de vista que aparecem no texto.
- Observar que as perguntas do animal permitem reflexões e inferências.
- Trocar impressões sobre o texto e as opiniões sobre as razões do mamute.
- Ampliar a discussão para outras questões que envolvem o ponto de vista dos animais, tais como animais em cativeiro, no zoológico, animais domésticos e as intervenções humanas no ambiente de forma geral.
- Refletir sobre os aspectos éticos ligados à relação dos humanos com as experiências envolvendo animais e humanos.
- Refletir no que mais precisaria ser clonado para recriar o ambiente do mamute, do ponto de vista biológico.
- Responder à carta, como se fosse o cientista.
- Escrever uma resenha.
- Buscar mais informações sobre o fato.
- Escrever uma resenha.
- Buscar mais informações sobre o fato.
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TRABALHO 2
Texto 1
“Depois de percorrido um quilômetro, surgiu uma floresta imensa, mas não mais daqueles bosques de cogumelos de Porto Gráuben. Tratava-se da vegetação da era terciária em toda a sua magnificência. Grandes palmeiras, de espécies hoje desaparecidas, soberbas palmácias, pinheiros, teixos, ciprestes, tuias representavam a família das coníferas e se entrelaçavam numa rede emaranhada de cipós. Um tapete de musgos e hepáticas revestia levemente o solo. Alguns riachos murmuravam sob aquela sombra, pouco dignos desse nome, já que não havia sombra. Nas suas margens, havia fetos arbóreos parecidos com os das serras quentes do globo habitado. Só que faltava cor àquelas árvores, àqueles arbustos, àquelas plantas, privados do calor vivificante do sol. Tudo se confundia numa coloração uniforme, acastanhada, meio que envelhecida. As folhas eram desprovidas de verde, e as próprias flores, tão numerosas na era terciária que as viu nascer, agora não tinham cor nem perfume, e pareciam feitas de papel desbotado sob a ação da atmosfera. Meu tio Lidenbrock aventurou-se debaixo daquela gigantesca mata. Segui-o, não sem certa apreensão. Já que a natureza pusera ali uma alimentação vegetal, por que não poderíamos encontrar também os temíveis mamíferos? Naquelas amplas clareiras deixadas pelas árvores caídas e roídas pelo tempo, eu via leguminosas, aceráceas, rubiáceas, e milhares de arbustos comestíveis, apreciados pelos ruminantes de todos os períodos. Depois surgiam, confundidas e entremeadas, as árvores das mais diferentes regiões do globo, o carvalho crescendo perto da palmeira, o eucalipto australiano apoiando-se no abeto da Noruega, a bétula do norte misturando os seus galhos com os do Bauris neozelandês. Era o suficiente para confundir o sistema dos mais engenhosos classificadores da botânica terrestre. De repente, parei. Com a mão, retive o meu tio.
A luz difusa permitia ver os menores objetos nas profundezas das matas. Julguei ver... Não! Eu realmente via com os meus olhos formas imensas agitando-se debaixo das árvores! Eram animais gigantescos, um rebanho inteiro de mastodontes, não mais fósseis, mas vivos, e parecidos com aqueles cujos restos foram descobertos em 1801 nos pântanos de Ohio! Via aqueles grandes elefantes, cujas trombas se enroscavam sob as árvores como uma legião de serpentes. Ouvia o barulho das suas longas presas, o marfim furando os velhos troncos. Os galhos se partiam, e as folhas, arrancadas em enormes massas, se engolfavam na ampla goela daqueles monstros. Aquele sonho em que eu vi renascer todo aquele mundo dos tempos antediluvianos, das eras terciária e quaternária, finalmente se realizava! E nós estávamos lá, sozinhos, nas entranhas do Globo, à mercê daqueles ferozes habitantes. Meu tio olhava. – Vamos – disse ele, de repente, pegando-me pelo braço. – Em frente, em frente! – Não! – exclamei. – Não! Não temos armas! Que faremos no meio desse rebanho de quadrúpedes gigantes? Venha, meu tio, venha! Nenhuma criatura humana pode provocar impunemente a cólera desses monstros” (VERNE, 2002, p. 211-2).
Texto 2
“No Eoceno superior surgem outras famílias de plantas com flores, entre elas as Malpighiáceas, Rhizophoráceas (gênero Rhizophora). A ocorrência de pólen fóssil dos gêneros Rhizophora (mangue), Nipa (vinda desde o Cretáceo) e Brownlowia (Tiliácea vinda do Paleoceno), todos juntos nos estuários do Eoceno superior, há uns 40 M.a.atrás, indica o início do ecossistema de Manguezal (ou mangue). O gênero Avicennia (mangue branco), comum nos manguezais modernos, só começa a ser encontrado mais tarde, a partir do Mioceno inferior. Estes dados mostram que o ecossistema de mangue é muito antigo, com pelo menos 40 M.a., e que sobreviveu até o presente. Contudo agora está ameaçado de extinção pelo homem. No Eoceno surge um novo grupo de mamíferos, os Cetáceos (baleias, delfins etc.). Eles vão ocupar, segundo G. G. Simpson, o nicho ecológico deixado por répteis como os ictiossauros e plesiossauros, que se extinguiram um pouco antes ou no final do Cretáceo. Estes eram animais marinhos carnívoros que se alimentavam de peixes, calamares, amonites e outros animais de porte médio a pequeno. Foram substituídos na cadeia alimentar por peixes carnívoros, mas, a partir do Eoceno, os Cetáceos passaram a ocupar um nicho trófico (alimentar) semelhante a este, e o ocupam até hoje. Os fósseis de delfins do Eoceno superior têm a forma externa muito semelhante à dos ictiossauros, e muito diferente de seus ancestrais terrestres” (SALGADO, 1998, p. 170).
IDEIAS:
- Identificar a denominação popular para as espécies e gêneros dos seres apresentados
- Identificar termos que revelam se tratar de ficção científica
- Elaborar um cladograma hipotético com as espécies citadas
- Elaborar uma ilustração desses ecossistemas descritos.
- Elaborar uma resenha.
- Elaborar uma resenha.
Os dois textos tratam da mesma era geológica e, dentro dela, do mesmo período terciário. No primeiro texto há uma recriação do ambiente baseada na intenção do autor. Na literatura, é possível criar mundos inexistentes, como o fez J. Tolkien em O senhor dos anéis, ou Ítalo Calvino em Cidades invisíveis. Aqui, Júlio Verne apóia-se nos conhecimentos científicos disponíveis na época para dar verossimilhança à história. No segundo texto há uma descrição apoiada nos dados e evidências obtidos pela Paleontologia. A linguagem e a forma indicam que se trata de um texto da esfera científica, e a pista que referenda a descrição é dada pela “ocorrência de pólen fóssil ... indica”, “fósseis de delfins...”. O texto apresenta grande quantidade de termos técnicos, os nomes das categorias taxonômicas, e o autor usa os parênteses para dar exemplos de plantas e/ou animais pertencentes a essas categorias. O uso dos parênteses com função explicativa é freqüente nos textos científicos e pode ser um apoio aos estudantes para a apropriação das informações apresentadas. Dias (2004) aponta para reflexos da evolução do conhecimento científico nas histórias em quadrinhos: “Durante a Guerra Fria, a radiação invadiu as HQs conferindo, inclusive, superpoderes aos heróis. Atualmente, a engenharia genética, a robótica e a nanotecnologia são algumas das áreas científicas que têm movimentado a criação de roteiros e personagens nas HQs. Os autores dos quadrinhos parecem acompanhar o desenvolvimento das ciências e o que circula delas no imaginário popular. Quando surgiu a ovelha Dolly, por exemplo, uma série interminável do Homem-Aranha colocou em cena os clones. Os próprios poderes do Homem-Aranha no cinema já não resultam mais da picada de uma aranha radioativa, mas de uma aranha geneticamente modificada”.